Pages

quarta-feira, 19 de março de 2014

Tudo bem em adaptar, mas não esculacha!



Quase um fato certeiro nos dias de hoje é : Se um livro fez sucesso, aguarde a sua adaptação nos cinemas. Boa parte do que estréia hoje nos cinemas é adaptação de alguma obra literária, e não deixo de achar isso positivo para ambas as mídias. Atire a primeira pedra quem nunca descobriu um bom livro/série após assistir a um filme ou vibrou ao ver sua cena favorita criando vida na tela do cinema.

Mas a receita: bom livro = bom filme nem sempre é certeira, tudo bem que adaptar um livro para uma obra cinematográfica é com certeza um desafio e tanto. Tornar visual algo que boa parte do público já criou na própria imaginação é com certeza um dos argumentos que mais prova esse ponto, já que com certeza, essa será a parcela mais crítica da audiência. 

É necessário ao fã do livro aceitar que não é possível recriar em duas, três horas no máximo, toda a emoção que ele vivenciou em 300~400 páginas. Uma mídia é complementar a outra, não substituta. Como já diz o nome, é uma ADAPTAÇÃO.

Mas aí chegamos ao ponto dessa postagem: É uma adaptação, mas também não precisa esculachar!

Estou falando sobre a série Instrumentos Mortais, escrita pela Cassandra Clare*. Tendo sua estréia com o primeiro volume Cidade dos Ossos (The Mortal Instruments -  City of Bones) em 2007 nos EUA e em 2010 em terras tupiniquins a série ambientada numa versão contemporânea do World of Darkness conta a história de Clarissa Fray (aka. Clary) que após testemunhar um "assassinato" que só ela é capaz de ver acaba descobrindo a existência de um grupo de exterminadores de demônios conhecidos como Caçadores de Sombras, com o qual ela já estava envolvida muito mais do que imaginava. Apresentando diversos seres do submundo como fadas, feiticieiros, vampiros, lobisomens, anjos e demônio,e com um "quê" de Constantine, a série cria uma visão moderna e cativante do sobrenatural, além de apresentar um ritmo fluído, misterioso, e agradável de leitura, que te faz devorar um livro atrás do outro.

Cidade dos Ossos é sucedido pelos demais livros da série : Cidade das Cinzas, Cidade de Vidro, Cidade dos Anjos Caídos, Cidade das Almas Perdidas e Cidade do Fogo Celestial, com lançamento previsto para maio deste ano. Ou seja, é uma série com extremo potencial para uma saga de sucesso nos cinemas, mas não é bem por ai que as coisas aconteceram..

Anunciado em junho de 2010 pela Screen Gems (Responsável pelas franquias : Resident Evil e Anjos da Noite) e anunciado para 23 de Agosto de 2013, após diversos problemas que vão desde o afastamento do Sony Pictures do projeto, como a troca do diretor escolhido inicialmente para Harald Zwart (Diretor do remake de Karate Kid) o filme finalmente saiu...



O grande pecado da produção é sem dúvidas o roteiro, que transforma "Adaptação" em "Levemente baseado em". É um dos piores roteiros de adaptação "Livro -  Filme" que já vi, sendo sincero. Houveram tantas mudanças na trama, tantas inclusões de elementos que não estavam presentes no livro e tantas exclusões de cenas marcantes da trama que fica difícil para quem leu o livro acreditar que está acompanhando a mesma história, porque simplesmente não está. Fatos do terceiro livro são incluídos nos primeiros 20 minutos do filme, o final é consideravelmente diferente do livro, e a protagonista faz coisas que simplesmente não existem na história. Existem outros pontos negativos ,mas nenhum é tão gritante. 

Em consequência chegou-se a cogitar a descontinuação da franquia após a fraca recepção do público e as duras críticas recebidas, para se ter uma idéia, das 115 críticas recebidas pelo filme no Rotten Tomatoes, apenas 14 são positivas. Apesar disso, foi anunciada a produção de Cidade das Cinzas, com estréia marcada para algum ponto desse ano, mas tratando-se de uma trama já tão desfigurada em seu primeiro lançamento, uma coisa é clara : Os Instrumentos Mortais podem ter sido um Best-Seller literário, mas jamais repetirão o feito nos cinemas.














1 comentários:

  1. Adaptações realmente tem o poder de nos decepcionar - e isso não vale só para LIVRO - CINEMA, como também para todas as outras mídias. Lembro-me do quão desapontado eu fiquei quando peguei o primeiro episódio da série Marvel's Agents of SHIELD pra assistir. Aquilo foi ridículo. Ainda tentei assistir o segundo, pra não dizer que eu estava sendo tendencioso, e acabou que eu quase dormi na metade do episódio.

    E ainda vou além: adaptações de HQs são, normalmente, infrutíferas. Lembro-me da tensão que era ler cada página dos fascículos de The Walking Dead. A série (por mais que eu ainda goste) não chega nem aos pés da trama impressa. E ainda vou mais longe: os filmes do Homem-Aranha ainda não desceram pra mim - nem a trilogia antiga, nem a nova.

    Fora as adaptações de jogos! O que eles fizeram com Resident Evil foi lamentável. Era simples, bastava seguir a história do jogo e tudo ficaria bem, mas não. Eles tinham que tentar "florear" a história com aquela desgraça da Alice e mais um monte de elementos pseudo-sobrenaturais que nunca existiram na trama original.

    É claro que existem suas exceções. A trilogia do Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, conseguiu transmitir aquela atmosfera fúnebre e psicologicamente perturbadora das histórias do Batman. No âmbito dos jogos, o primeiro Silent Hill ficou muito bom (e fiel em vários aspectos); para os livros, Harry Potter e The Hunger Games representam a categoria - embora eu não seja tão fã do primeiro.

    Excelente texto e reflexão, Paulo!

    ResponderExcluir